Resenha: As Duas Faces do Destino - Landulfo Almeida

Bruno é um investidor da bolsa de valores - Monotonamente alterna seus afazeres em investimentos com exercícios físicos e crises existenciais. Bruno até tem seus amigos fiéis, sua mãe prestativa morando no longínquo prédio vizinho, uma vida luxuosa em Salvador... mas nada em sua vida parece fazer sentido.

Só quando conhece Adrianna, no entanto, Bruno conhece o significado real do termo “não faz sentido”.

Dotada de habilidades sobre-humanas, inteligência muito acima da média, força e habilidade extremas – além de uma aparência fenomenal, diga-se de passagem – Adrianna é tudo que Bruno não entende. De onde vêm aqueles dons inacreditáveis? E por que, de todos os homens, é justo Bruno que Adrianna recruta para... bom, digamos que “salvar o planeta Terra”?

Vinda de uma outra realidade superdesenvolvida entre as dimensões, Adrianna precisa de ajuda para refrear o avanço de Kerligan Amnael, um poderoso cientista que, acumulando dinheiro, influência e aliados, planeja tomar a Terra.

Com Bruno – transformado, mudado, e arrancado de sua vida de antes – Adrianna trava sua guerra contra Kerligan: Uma guerra que, na maioria das batalhas, não conta com a ajuda de espadas ou armas de fogo.

É uma batalha de poder.

Quem conquistar mais dinheiro, mais posses e mais influência vence. Com a ajuda de seus amigos mais próximos, Bruno precisa superar as forças de Kerligan – na Terra conhecido como digníssimo empresário, e não como o traidor que é visto na outra dimensão, conhecida como Aqua.

De Kerligan pode se esperar tudo. Seu plano misterioso, escondido por debaixo da pose de homem de negócios, pode ser muito pior do que Bruno imagina.

Os riscos são muitos, as pequenas conquistas fazem muita diferença.

Amizades serão postas à prova, relacionamentos podem ser considerados perigosos, e desafios cada vez menos comuns irão dificultar cada passo do plano titânico.

Mas não são só Bruno e Adrianna que têm seus planos bem formulados... Kerligan, afinal, tem uma mente privilegiada.

“-O exemplo preferido de Onan era o de um grão de areia solto ao vento. Nesse plano dimensional ele pode seguir para a praia e se somar aos que lá estão. Em um plano paralelo, ele pode ser levado por quilômetros através do oceano até uma ostra, onde, alguns anos depois, se tornará uma pérola. Não existem limites para as diferenças entre os mundos paralelos... Nem para as semelhanças.”

[trecho em que Adrianna explica as realidades paralelas]

As Duas Faces do Destino foi um livro tão bom e familiar que eu precisava constantemente me lembrar que não estava lendo Dan Brown. De qualidade surpreendente e com um enredo beeem original, o livro expõe um novo tipo de leitura e um banho de conhecimento.

Landulfo Almeida trouxe tudo o que eu mais amo em livros de ficção científica: a naturalidade com que o impossível se funde ao possível, as citações famosas, a forma lógica de explicar coisas que não são muito lógicas. Outras dimensões? Vida em outros planetas? Sociedades superdesenvolvidas com longevidade de séculos? Por que não? Landulfo faz tudo parecer plausível.

Bruno, o protagonista, é um pouco chato no início. Pensa muito, faz pouco, e praticamente não tem vida social. Quando conhece Adrianna, no entanto, mudanças drásticas acontecem. O que a influência de uma mulher apaixonante não faz! Logo Bruno é o protagonista que se espera: decidido, firme, autoconfiante e extremamente capaz de lidar com o vilão.

Apesar do jeito “Dan Brown” de ser, o livro traz uma visão diferente da batalha do bem contra o mal. Os dois lados – tanto o do mocinho quanto o do vilão – são muito bem explicados, de forma que você pode escolher por quem torcer. Às vezes você até entende o "vilão".

Uma coisa que complicou um pouco a leitura foram as longas sessões falando da bolsa de valores, economia, investimentos, e outras questões que – talvez eu não seja inteligente o bastante pra isso, afinal – eu não consegui entender completamente.

Não tem uma linguagem muito fácil, mas, ao contrário de outros livros de ficção, não fica só voltado para o desafio que Kerligan representa: o livro conta com brincadeiras, amizades despretensiosas e romances (esses sim são ótimos: nada exagerados, nada melosos - excepcionais).

Enfim, eu amei.

São poucos os autores brasileiros (ou autores de uma forma geral) que conseguem, de forma ampla, escrever um livro de ficção tão bom.

Espero que gostem de As Duas Faces do Destino tanto quanto eu gostei!